A patela é aquele ossinho da ponta do nosso joelho, ele articula com o fêmur e é o ponto de fixação do músculo quadríceps (frente da coxa) se conectando à tíbia (osso da perna).
É responsável por facilitar os movimentos de flexão e extensão dos joelhos servindo como uma polia.
Entre a patela e o fêmur , as superfícies articulares são revestidas por cartilagem, estrutura que amortece impactos e facilita o deslizamento entre os ossos, é pouco/nada irrigada pela corrente sanguínea e não recebe inervação.
Pela grande incidência de forças nessa articulação, a cartilagem femoropatelar é uma das mais espessas do nosso corpo.
Essa espessura garante o encaixe perfeito, melhor amortecimento e uma ótima distribuição de cargas.
Qualquer alteração nesse mecanismo, pode causar sobrecarga e desenvolver o que chamamos de condromalácia patelar ou síndrome femoropatelar.
A síndrome femoropatelar, então, é o desgaste da cartilagem da patela.
Existem vários graus de evolução do desgaste que vai desde um amolecimento desse tecido, evoluindo para pequenas rachaduras que vão se abrindo e chegando à exposição do osso subcondral (osso abaixo da cartilagem) , a evolução disso já é considerada artrose.
Por esse tecido ser pouco inervado, na maioria das vezes o paciente só refere sintomas quando já apresenta um grau mais avançado da síndrome, o que dificulta o tratamento pois esse tecido não cicatriza, sendo impossível reverter o processo degenerativo, mas felizmente conseguimos com o tratamento adequado retardar sua evolução.
A causa exata da condromalácia ainda é desconhecida, o que sabemos é que está relacionada com um desequilíbrio das forças no joelho, o que diminui a superfície de contato entre os ossos aumentando a pressão entre eles e assim “gastando” mais rápido a articulação.
Esse desequilíbrio pode ser causado por fraqueza muscular , desvios de eixo como joelho em “X” (mais comum em mulheres) ou em alguns casos de traumas diretos ou como resultado de luxações repetidas da articulação femoropatelar, que esmagam e “lascam” a cartilagem respectivamente.
Também pode estar associada a alguma alteração na composição do tecido condral predispondo ao seu amolecimento e consequentemente as erosões pelo uso.
Como comentado anteriormente, o processo de desgaste da articulação começa muito antes do paciente apresentar sintomas.
A cartilagem vai sofrendo desgaste, ate que muitas vezes apresentar uma sensação de crepitação (areia dentro do joelho), evoluindo para a dor na região anterior do joelho principalmente ao subir e descer escadas, agachar ou mesmo depois de um tempo sentado com o joelho dobrado.
O inchaço da articulação também é bem comum nessa síndrome, podendo aparecer depois da prática esportiva ou atividade mais intensa.
O diagnóstico é feito através da avaliação clínica detalhada , onde se coleta a história da lesão do paciente, exames clínicos como a palpação, testes específicos das estruturas relacionadas , investigamos desequilíbrios musculares ou mesmo alterações anatômicas.
Somado a estes, caso ainda tenha necessidade de saber mais detalhes da lesão e em que estágio está, a ressonância magnética é o exame mais indicado.
Como estamos falando de um processo degenerativo progressivo, a condromalácia não tem cura, por isso quanto antes for diagnosticada e iniciado o tratamento, mais rápido conseguimos minimizar seus efeitos e retardar sua evolução.
Numa fase inicial o tratamento se dá com controle da dor e edema através de recursos eletrofototerapeuticos (laser, ultrassom, tensão…) e gelo.
Nessa fase também são sugeridos o uso de joelheiras e palmilhas, para melhorar o encaixe da patela e reduzir os desvios de eixo respectivamente.
O fortalecimento muscular numa segunda fase é iniciado obedecendo os ângulos de proteção da articulação, à medida que a musculatura já consegue absorver melhor a sobrecarga, esse ângulo vai aumentando até a execução completa dos movimentos isso se aplica à cadeira extensora , leg press e agachamentos.
A reeducação dos movimentos do dia a dia completa o trabalho da fisioterapia, com o objetivo de transferir a parte da pressão gerada na articulação femoropatelar para a musculatura dos glúteos e posterior da coxa.
Também melhorar o encaixe da patela dentro do seu “trilho” de movimento aumentando a superfície de contato e consequentemente aliviando a pressão na articulação.
Posteriormente o paciente passa a fazer um trabalho de volta às atividades físicas aplicando esses conceitos dentro do gesto esportivo até a sua alta.
Em alguns casos mais avançados da patologia, além da fisioterapia, é indicada a infiltração com ácido hialurônico com objetivo de “lubrificar” a articulação diminuindo assim o atrito entre os ossos e em casos mais extremos, a artroscopia.